Ficamos muito felizes com o seu comentário, Anna. É bom saber que o Projeto Cápsula te fez conhecer uma nova autora. Nós também temos um livro da Ursula publicado, chamado “A Curva do Sonho”. Acreditamos que você
Marcio Ribeiro
2 anos atrás
O que sempre me cativa na escrita de Ursula K. Le Guinn é sua capacidade de criar sociedades, civilizações, sejam elas mera utopia ou mundos distantes, pensar toda a estrutura de sociedades surgidas de sua mente, basta ler alguns de seus livros como “A mão esquerda da escuridão”, “Os despossuídos”, “The word for world is forest” (sendo esses os que já li, além dos livros iniciais da série Terramar).
* Spoilers!
Nesse pequeno conto, Ursula fala de forma delicada e clara sobre um tema complexo, sobre o que ela mesma diz em suas primeiras páginas: a banalidade do mal.
Conceito introduzido por Hannah Arendt, a banalidade do mal é advindo de sua percepção originada do julgamento do oficial nazista Eichmann. Cientes que a felicidade da maioria depende da institucionalização e sistematização da dor de uma minoria, os membros de uma sociedade que têm esse conhecimento conseguem de fato ser felizes? O conto demonstra que essa sociedade pode chegar a um estado que crê ser certa sua atitude, num fechar-de-olhos para o que não lhe diz respeito. Afinal, o Estado institucionalizou aquela questão. Assim o fez Eichmann e tantos outros ao enviarem milhões de seres humanos à morte, acreditando estar a cumprir o seu dever com o maior zelo e eficiência possíveis, obedecendo burocraticamente ordens sem questioná-las.
Em uma breve pesquisa, encontrei informações de que o conto também tem base em uma passagem de “Os Irmãos Karamázov” de Dostoiévski, como colocado por Svetlana Alexijevich em “As últimas testemunhas”:
“No passado, Dostoiévski fez a seguinte pergunta: e será que encontraremos absolvição para o mundo, para a nossa felicidade e até para a harmonia eterna se, em nome disso, para solidificar essa base, for derramada uma lagrimazinha de uma criança inocente? E ele mesmo respondeu: essa lagrimazinha não legitima nenhum progresso, nenhuma revolução. Nenhuma guerra. Ela sempre pesa mais.
Excelente conto, Ursula tem uma escrita incrível, em poucas páginas já nos ambienta em Omelas e nos apresenta as sensações da cidade, além de sua cruel realidade. O conto nos deixa perplexos, tristes e não tem como não relacionar com o nosso dia-a-dia. Quais injustiças deixamos passar para que uma pretensa “felicidade geral” seja alcançada? E o que fazemos com essa culpa?
Que projeto maravilhoso, ainda mais com textos dessa qualidade e representatividade! Parabéns pela iniciativa. Seria possível disponibilizar uma opção para impressão?
Olá Cesar, tudo bem? Que bom que você gostou! Infelizmente não, o objetivo do Projeto Cápsula é ser lido no site, no desktop, tablet ou celular somente.
Não poderia esperar menos de Úrsula! Um conto que começa despretensioso e que nos leva a refletir sobre os propósitos e os exemplos da vida. Confesso que fiquei até um pouco chocada ao notar que muitas vezes precisamos do exemplo triste de alguém para encontrar nossa felicidade. Parabéns por trazerem mais este conto!
Deixando a minha opinião aqui (que depois eu vou publicar no blog):
Aqueles que Abandonam Omelas é uma história curta clássica de Úrsula K. Le Guin que foi vencedora do Hugo na categoria de histórias curtas em 1972. É um dos contos que pertencem a uma das melhores coletâneas de histórias da autora: The Wind’s Twelve Quarters (que eu adoraria que alguma editora trouxesse para o Brasil). A Editora Morro Branco traduziu e disponibilizou gratuitamente este conto em sua plataforma, o Projeto Cápsula.
Imaginem uma cidade linda e maravilhosa. Onde as pessoas estão celebrando um festival, dançando e cantando enquanto as luzes da cidade revelam todas as belezas. Crianças tocam flautas, com acordes belíssimos. A cidade é uma utopia magnífica, onde não há pobreza e nem doenças. O narrador segue em descrições idílicas deste verdadeiro paraíso na Terra. E se o leitor quiser pode acrescentar uma orgia qualquer com sacerdotes ou sacerdotisas nuas passeando pelas ruas da cidade. Ou, se o leitor quiser algo mais estimulante, acrescente o drooz, uma droga capaz de fazer o que quiser com os sentidos. O importante é o leitor se sentir encantado pelas maravilhas dessa cidade. Mas, isso vem a um preço. Para que esta felicidade exista, uma criança vive nas profundezas desta cidade. Com medo, assustada e mal nutrida, sua desgraça é o que sustenta a felicidade dos demais. Ela vive nua, desnutrida, sentada nas próprias fezes, sendo xingada e vítima de pena pelos outros. Todos da cidade sabem que ela existe. O que acontece a ela é necessário para que a cidade viva sua era de ouro.
Le Guin é uma autora incrível ao tecer uma história que possui tantos significados como esta. O que ela discute aqui é um tema aparentemente claro, mas que exige muita reflexão: a injustiça social. E aí é possível trazermos essa discussão para o mundo em que vivemos. A alegoria que ela emprega é o da Criança Torturada, algo que Dostoievski explora em Os Irmãos Karamázov: somos capazes de conviver com a certeza de que a nossa felicidade depende da desgraça de outra pessoa? Na narrativa, Le Guin usa descrições bem vívidas tanto acerca da cidade magnífica como o da criança torturada. No mundo de hoje, temos uma sociedade capitalista que se construiu em cima da desgraça de muitos. Se engana quem pensa que o modelo econômico é igualitário. Ele jamais vai ser. Para o capitalismo funcionar, eu preciso ter poucos ricos e muitos pobres. Dessa forma quem é rico dita o andamento da sociedade enquanto o pobre trabalha almejando, com sua força de trabalho, se tornar um integrante da elite. Ou seja, para a bela cidade da elite funcionar, ela depende da criança torturada que é a massa camponesa.
Inteligentemente, Le Guin nos coloca como cúmplices da narrativa. Isso porque a narrativa funciona em uma mescla de segunda e terceira pessoas. As descrições do narrador não são tão completas assim e ele coloca na mente do leitor as sementes para que ele possa construir sua própria versão da cidade. A todo o momento ele faz essas interlocuções onde ele pede que acrescentemos as festividades, as orgias, as drogas entorpecedoras. Tudo a nosso gosto. Ou seja, Omelas é a nossa utopia manifestada de forma concreta. Quando ela nos apresenta a Criança Torturada, já havíamos criado tudo o que tanto desejamos. É como se o narrador (ou seja a própria autora) fosse Mefistófeles, e nos oferecesse tudo o que quiséssemos, mas em algum momento teríamos que pagar o preço. E esse preço vem em uma descrição que, diferente da abertura fornecida pela anterior, é inteiramente fechada e não dá espaço para justificativas. A criança vive em um estado deplorável e nós, leitores, somos parte disso porque aceitamos transformar a cidade em nosso conceito de cidade e ambientação perfeita.
É esse jogo duplo de culpabilidade, cumplicidade e tortura que tornam o conto tão poderoso. Porque ele joga na nossa cara como o mundo é injusto. Como o sistema do qual fazemos parte não prega igualdade, mas a imundície. É a definição absoluta de o quanto não existem luzes na nossa cidade sem a escuridão dos esgotos. Qual é a solução? Nenhuma. Le Guin não se propõe a te dar um final feliz, uma solução para os problemas do mundo. Ela só nos mostra o quanto somos inertes em tentar impedir que aquela criança seja torturada. Porque aqueles de nós que possuem mais escrúpulos apenas vão fazer como aqueles que mais se incomodaram com a situação na cidade: abandonar Omelas.
Tamara Alcântara Frazão
2 anos atrás
Amei, mas tive que ler duas vezes pra entender melhor kkk
Agradecemos o feedback, Isabella! Vamos continuar sim! ♥
Lilli
2 anos atrás
Viajei, criei, teci, complementei com o que acho “importante”…. Daí me vi na posição de algoz: teria que sacrificar algo muito importante para ter o “mundo ideal”.
Não, não consigo.
Sou uma das que abandonariam Omelas.
Achei incrível o formato e a proposta trazida pelo projeto da cápsula. Me encantei com as literaturas, é uma ótima fonte de conhecimento!!
Mayanna
1 ano atrás
Uma proposição que incita a reflexão sobre a forma como se vive na desigualdade e as possibilidades de abandonar o que lhe aprisiona. Fabuloso!
Letícia
1 ano atrás
Parabéns editora Morro Branco, essa iniciativa é muito boa!
O conto tem um toque de mistério muito interessante, que me prendeu muito e a mensagem final é muito impactante!
Quero ler os outros contos disponíveis aqui!
Shirley Britto
1 ano atrás
Gostei bastante , mostra o que é o egoísmo humano, quando se cria uma razão para ter escravos , para ter a maldade. É a humanidade não deu certo .
ELIANA REGINA CARDOSO DA ROSA
1 ano atrás
Muito mágico! Belíssimo conto. Uma verdade filosófica. Fiquei pensando, quantos de nós abandonam Omelas? Fechamos os olhos para viver a “felicidade”? Obrigada por oportunizar esse encontro com a leitura e a reflexão.
Rosa de Carvalho
1 ano atrás
Maravilhoso balde de água fria em nossa finalidade de vida.
Lucas Pereira de Souza
1 ano atrás
Adorei o conto. Acessei através da dica da Dona Rita! Amei.
Fatima pires
1 ano atrás
Que lindo progetto,tu do que nos leva a observar e pensar traz esperança
Nadia Nogueira
1 ano atrás
Amei o conto. Um verdadeiro soco no estômago. Autora fantástica
Lindo e duro. Uma fantasia que afere as realidades que vemos.
Rosana Meire de Lima
1 ano atrás
Excelente canal de amplificação de ideias! Amei
Ginga Vasconcelos
1 ano atrás
UAU…quero dizer…UAUUUUU! Maravilhoso!
Geise Bernadelli
1 ano atrás
Excelente o conto! Não havia lido nada ainda da autora e achei ótima a maneira dela criar esse mundo de Omelas, sua forma de mostrar a naturalidade com que se exerce o mal, quase que como validando a justificativa da cidade para perpetuar a violência. Eu gostaria de dizer que é uma distopia, mas infelizmente Omelas é algo cruelmente real, e as vísceras dessa operacionalização da vida social estão expostas e fedendo bastante atualmente. Eu abandono Omelas diariamente, mas a culpa me acompanha e também a tristeza por tantos dos que amo viverem tranquilamente na paz sem culpa de Omelas. Obrigada pelo projeto cápsula, vida longa a esse lindo projeto!
Rosilene
1 ano atrás
Que conto intrigante!! Estou cheia de perguntas e vou precisar de dias para encontrar quem sabe respostas
Cristian
1 ano atrás
Maravilhoso.
luciana
1 ano atrás
Achei a iniciativa excelente, mas não gostei da execução. Acho ruim ler com duas páginas por tela. Gostaria da opção de baixar o arquivo de texto e ler pelo kindle.
Que conto lindo, gostaria de ter uma edição pequena física! Comprarei imediatamente a Curva do sonho.
GLEICE BORGHESI DUCATTI PEROSA
1 ano atrás
Adorei. Fiquei tentando imaginar uma saída. Será que não existe a opção de salvar a criança e abandonar Omelas para construir outro lugar? Seria preciso uma operação de inteligência e clandestinidade e seria uma fuga espetacular. O que aconteceria com Omelas? Sei lá. Não olharia pra trás pra saber.
raquel leão luz
1 ano atrás
Belíssimo conto! Arrepiante! Lerei com meus estudantes do 8º ano. Em breve passarão por aqui para também comentar!
Uma reflexão sobre o próprio ser humano e sua capacidade de tratar o mal com condescendência, mesmo que saiba de sua existência. Não poderia ser mais atual, visto que vivemos tempos onde a empatia é tida como fraqueza. Qual o limite para esta cegueira autoi mposta? Para alguns é a saída de Omelas.
Que Conto ótimo, bem filosófico, tentem trazer alguns do Ray bradbury!
Que conto maravilhoso, como todos os outros do projeto cápsula. Nunca tinha lido nada da Úrsula e me encantei.
Ficamos muito felizes com o seu comentário, Anna. É bom saber que o Projeto Cápsula te fez conhecer uma nova autora. Nós também temos um livro da Ursula publicado, chamado “A Curva do Sonho”. Acreditamos que você
O que sempre me cativa na escrita de Ursula K. Le Guinn é sua capacidade de criar sociedades, civilizações, sejam elas mera utopia ou mundos distantes, pensar toda a estrutura de sociedades surgidas de sua mente, basta ler alguns de seus livros como “A mão esquerda da escuridão”, “Os despossuídos”, “The word for world is forest” (sendo esses os que já li, além dos livros iniciais da série Terramar).
* Spoilers!
Nesse pequeno conto, Ursula fala de forma delicada e clara sobre um tema complexo, sobre o que ela mesma diz em suas primeiras páginas: a banalidade do mal.
Conceito introduzido por Hannah Arendt, a banalidade do mal é advindo de sua percepção originada do julgamento do oficial nazista Eichmann. Cientes que a felicidade da maioria depende da institucionalização e sistematização da dor de uma minoria, os membros de uma sociedade que têm esse conhecimento conseguem de fato ser felizes? O conto demonstra que essa sociedade pode chegar a um estado que crê ser certa sua atitude, num fechar-de-olhos para o que não lhe diz respeito. Afinal, o Estado institucionalizou aquela questão. Assim o fez Eichmann e tantos outros ao enviarem milhões de seres humanos à morte, acreditando estar a cumprir o seu dever com o maior zelo e eficiência possíveis, obedecendo burocraticamente ordens sem questioná-las.
Em uma breve pesquisa, encontrei informações de que o conto também tem base em uma passagem de “Os Irmãos Karamázov” de Dostoiévski, como colocado por Svetlana Alexijevich em “As últimas testemunhas”:
“No passado, Dostoiévski fez a seguinte pergunta: e será que encontraremos absolvição para o mundo, para a nossa felicidade e até para a harmonia eterna se, em nome disso, para solidificar essa base, for derramada uma lagrimazinha de uma criança inocente? E ele mesmo respondeu: essa lagrimazinha não legitima nenhum progresso, nenhuma revolução. Nenhuma guerra. Ela sempre pesa mais.
Uma só lagrimazinha…”*
*http://www.aescotilha.com.br/literatura/ponto-virgula/aqueles-que-abandonam-omelas-ursula-k-le-guin-resenha/
Olá! Nossa, adoramos a resenha, ficou incrível mesmo!
Excelente conto, Ursula tem uma escrita incrível, em poucas páginas já nos ambienta em Omelas e nos apresenta as sensações da cidade, além de sua cruel realidade. O conto nos deixa perplexos, tristes e não tem como não relacionar com o nosso dia-a-dia. Quais injustiças deixamos passar para que uma pretensa “felicidade geral” seja alcançada? E o que fazemos com essa culpa?
Excelente comentário, Denise. Ficamos felizes por você ter gostado!
Que projeto maravilhoso, ainda mais com textos dessa qualidade e representatividade! Parabéns pela iniciativa. Seria possível disponibilizar uma opção para impressão?
Olá Cesar, tudo bem? Que bom que você gostou! Infelizmente não, o objetivo do Projeto Cápsula é ser lido no site, no desktop, tablet ou celular somente.
Não poderia esperar menos de Úrsula! Um conto que começa despretensioso e que nos leva a refletir sobre os propósitos e os exemplos da vida. Confesso que fiquei até um pouco chocada ao notar que muitas vezes precisamos do exemplo triste de alguém para encontrar nossa felicidade. Parabéns por trazerem mais este conto!
Ficamos felizes por você ter aproveitado o conto, Aline. Agradecemos o carinho!
Excelente. Por mais publicações assim!
Que bom que você gostou! Agradecemos pelo comentário!
Esse conto é bem reflexivo, um reflexo social intrigante e vivo. Adorei.
Olá Camille! Ficamos felizes em saber que você gostou!
Muito bom!! Amei a iniciativa. Espero que tenha mais!
Quebrou o meu coração, como eu sabia que ia fazer. Muito bem, Úrsula. E muito obrigada pela publicação, Morro Branco.
O conto é bem no estilo ficcional da autora, e traz muita reflexão sobre a sociedade criada.
Deixando a minha opinião aqui (que depois eu vou publicar no blog):
Aqueles que Abandonam Omelas é uma história curta clássica de Úrsula K. Le Guin que foi vencedora do Hugo na categoria de histórias curtas em 1972. É um dos contos que pertencem a uma das melhores coletâneas de histórias da autora: The Wind’s Twelve Quarters (que eu adoraria que alguma editora trouxesse para o Brasil). A Editora Morro Branco traduziu e disponibilizou gratuitamente este conto em sua plataforma, o Projeto Cápsula.
Imaginem uma cidade linda e maravilhosa. Onde as pessoas estão celebrando um festival, dançando e cantando enquanto as luzes da cidade revelam todas as belezas. Crianças tocam flautas, com acordes belíssimos. A cidade é uma utopia magnífica, onde não há pobreza e nem doenças. O narrador segue em descrições idílicas deste verdadeiro paraíso na Terra. E se o leitor quiser pode acrescentar uma orgia qualquer com sacerdotes ou sacerdotisas nuas passeando pelas ruas da cidade. Ou, se o leitor quiser algo mais estimulante, acrescente o drooz, uma droga capaz de fazer o que quiser com os sentidos. O importante é o leitor se sentir encantado pelas maravilhas dessa cidade. Mas, isso vem a um preço. Para que esta felicidade exista, uma criança vive nas profundezas desta cidade. Com medo, assustada e mal nutrida, sua desgraça é o que sustenta a felicidade dos demais. Ela vive nua, desnutrida, sentada nas próprias fezes, sendo xingada e vítima de pena pelos outros. Todos da cidade sabem que ela existe. O que acontece a ela é necessário para que a cidade viva sua era de ouro.
Le Guin é uma autora incrível ao tecer uma história que possui tantos significados como esta. O que ela discute aqui é um tema aparentemente claro, mas que exige muita reflexão: a injustiça social. E aí é possível trazermos essa discussão para o mundo em que vivemos. A alegoria que ela emprega é o da Criança Torturada, algo que Dostoievski explora em Os Irmãos Karamázov: somos capazes de conviver com a certeza de que a nossa felicidade depende da desgraça de outra pessoa? Na narrativa, Le Guin usa descrições bem vívidas tanto acerca da cidade magnífica como o da criança torturada. No mundo de hoje, temos uma sociedade capitalista que se construiu em cima da desgraça de muitos. Se engana quem pensa que o modelo econômico é igualitário. Ele jamais vai ser. Para o capitalismo funcionar, eu preciso ter poucos ricos e muitos pobres. Dessa forma quem é rico dita o andamento da sociedade enquanto o pobre trabalha almejando, com sua força de trabalho, se tornar um integrante da elite. Ou seja, para a bela cidade da elite funcionar, ela depende da criança torturada que é a massa camponesa.
Inteligentemente, Le Guin nos coloca como cúmplices da narrativa. Isso porque a narrativa funciona em uma mescla de segunda e terceira pessoas. As descrições do narrador não são tão completas assim e ele coloca na mente do leitor as sementes para que ele possa construir sua própria versão da cidade. A todo o momento ele faz essas interlocuções onde ele pede que acrescentemos as festividades, as orgias, as drogas entorpecedoras. Tudo a nosso gosto. Ou seja, Omelas é a nossa utopia manifestada de forma concreta. Quando ela nos apresenta a Criança Torturada, já havíamos criado tudo o que tanto desejamos. É como se o narrador (ou seja a própria autora) fosse Mefistófeles, e nos oferecesse tudo o que quiséssemos, mas em algum momento teríamos que pagar o preço. E esse preço vem em uma descrição que, diferente da abertura fornecida pela anterior, é inteiramente fechada e não dá espaço para justificativas. A criança vive em um estado deplorável e nós, leitores, somos parte disso porque aceitamos transformar a cidade em nosso conceito de cidade e ambientação perfeita.
É esse jogo duplo de culpabilidade, cumplicidade e tortura que tornam o conto tão poderoso. Porque ele joga na nossa cara como o mundo é injusto. Como o sistema do qual fazemos parte não prega igualdade, mas a imundície. É a definição absoluta de o quanto não existem luzes na nossa cidade sem a escuridão dos esgotos. Qual é a solução? Nenhuma. Le Guin não se propõe a te dar um final feliz, uma solução para os problemas do mundo. Ela só nos mostra o quanto somos inertes em tentar impedir que aquela criança seja torturada. Porque aqueles de nós que possuem mais escrúpulos apenas vão fazer como aqueles que mais se incomodaram com a situação na cidade: abandonar Omelas.
Amei, mas tive que ler duas vezes pra entender melhor kkk
Ah mas ficamos muito felizes por você ter gostado!
Esse conto é incrível. Amei o projeto, por favor, continuem com o Cápsula.
Agradecemos o feedback, Isabella! Vamos continuar sim! ♥
Viajei, criei, teci, complementei com o que acho “importante”…. Daí me vi na posição de algoz: teria que sacrificar algo muito importante para ter o “mundo ideal”.
Não, não consigo.
Sou uma das que abandonariam Omelas.
Adoramos seu comentário!
Excelente conto, reflexivo e envolvente.
Ficamos muito felizes em saber que você gostou! ♥
Perfeito
Onde encontro o livro?
Achei incrível o formato e a proposta trazida pelo projeto da cápsula. Me encantei com as literaturas, é uma ótima fonte de conhecimento!!
Uma proposição que incita a reflexão sobre a forma como se vive na desigualdade e as possibilidades de abandonar o que lhe aprisiona. Fabuloso!
Parabéns editora Morro Branco, essa iniciativa é muito boa!
O conto tem um toque de mistério muito interessante, que me prendeu muito e a mensagem final é muito impactante!
Quero ler os outros contos disponíveis aqui!
Gostei bastante , mostra o que é o egoísmo humano, quando se cria uma razão para ter escravos , para ter a maldade. É a humanidade não deu certo .
Muito mágico! Belíssimo conto. Uma verdade filosófica. Fiquei pensando, quantos de nós abandonam Omelas? Fechamos os olhos para viver a “felicidade”? Obrigada por oportunizar esse encontro com a leitura e a reflexão.
Maravilhoso balde de água fria em nossa finalidade de vida.
Adorei o conto. Acessei através da dica da Dona Rita! Amei.
Que lindo progetto,tu do que nos leva a observar e pensar traz esperança
Amei o conto. Um verdadeiro soco no estômago. Autora fantástica
Lindo e duro. Uma fantasia que afere as realidades que vemos.
Excelente canal de amplificação de ideias! Amei
UAU…quero dizer…UAUUUUU! Maravilhoso!
Excelente o conto! Não havia lido nada ainda da autora e achei ótima a maneira dela criar esse mundo de Omelas, sua forma de mostrar a naturalidade com que se exerce o mal, quase que como validando a justificativa da cidade para perpetuar a violência. Eu gostaria de dizer que é uma distopia, mas infelizmente Omelas é algo cruelmente real, e as vísceras dessa operacionalização da vida social estão expostas e fedendo bastante atualmente. Eu abandono Omelas diariamente, mas a culpa me acompanha e também a tristeza por tantos dos que amo viverem tranquilamente na paz sem culpa de Omelas. Obrigada pelo projeto cápsula, vida longa a esse lindo projeto!
Que conto intrigante!! Estou cheia de perguntas e vou precisar de dias para encontrar quem sabe respostas
Maravilhoso.
Achei a iniciativa excelente, mas não gostei da execução. Acho ruim ler com duas páginas por tela. Gostaria da opção de baixar o arquivo de texto e ler pelo kindle.
quero ilustrar contos assim.
Pareceu que eu estava as portas de visitar o terror cósmico. Sensacional.
Excelente dica da Rita Von Hunty! Procurarei ler mais livros dessa escritora! Infelizmente, essa é a realidade do nosso dia a dia!
Que conto lindo, gostaria de ter uma edição pequena física! Comprarei imediatamente a Curva do sonho.
Adorei. Fiquei tentando imaginar uma saída. Será que não existe a opção de salvar a criança e abandonar Omelas para construir outro lugar? Seria preciso uma operação de inteligência e clandestinidade e seria uma fuga espetacular. O que aconteceria com Omelas? Sei lá. Não olharia pra trás pra saber.
Belíssimo conto! Arrepiante! Lerei com meus estudantes do 8º ano. Em breve passarão por aqui para também comentar!
Obrigada por trazer mais um conto incrível!
Gostei
Que projeto encantador. Obrigado.
Uma reflexão sobre o próprio ser humano e sua capacidade de tratar o mal com condescendência, mesmo que saiba de sua existência. Não poderia ser mais atual, visto que vivemos tempos onde a empatia é tida como fraqueza. Qual o limite para esta cegueira autoi mposta? Para alguns é a saída de Omelas.